Gabriela Pedroso

Uma verdade inconveniente

Qual seu nível de sinceridade? Eu confesso, sem muitas delongas, que constantemente regulo o nível da minha, assim como um botão de volume, e a ajusto de acordo com as situações. Já outros possuem aquela sinceridade mortal, quase inconsequente, e falam o que pensam antes mesmo de o pensamento terminar de se formar. Apesar de tudo, seja você um supersincero, um supercontido, ou aquele que anda na linha do meio, existe uma pessoa para quem o botão é regulado nos menores números, aquela pessoa que fazemos questão de enganar descaradamente e quem mais sofre com as nossas mentiras. Já descobriu quem é essa pessoa? Basta olhar no espelho. Sim, vamos encarar a realidade por um minuto e reconhecer que nos contamos as piores mentiras, as mais deslavadas e sem critério, e o pior de tudo, acreditamos em cada uma delas! Precisa de um exemplo? Quais são as suas desculpas prediletas? Não tenho tempo para estudar. Estou muito cansado para me exercitar. Eu paro quando quiser. Quando me aposentar vou aproveitar a vida! Desculpas, mentiras que criamos para explicar para nós mesmos o porquê de continuarmos nos sabotando a cada dia, porque nos afundamos em nossas próprias rotinas e deixamos de lado o que realmente importa. Mas por que nos sabotamos, afinal? Somos seres inteligentes, pensantes, que sabem o que deve ser feito, mas qual a verdadeira razão de nos mantermos em ponto morto? A resposta é bem simples: zona de conforto. Nosso inconsciente, que não é nada racional, tende a ficar incomodado toda vez que saímos dessa zona, daquela área que nos é familiar e conhecida, e força o caminho de volta. Por quê? Força do hábito. Toda tarefa que é realizada repetidamente torna-se um hábito, e isso faz com que o nosso cérebro possa descansar e trabalhar menos, pois os caminhos neurais para aquela atividade já estão formados. É como colocar um rato no labirinto. Você ensina o caminho e no final dá um chocolate. Depois de várias vezes percorrendo o mesmo caminho, o rato passa a encontrar a saída mesmo sem enxergar nada na sua frente. O problema é que, se um dia colocarmos uma ratoeira no final, ele vai correr em direção a ela mesmo assim. É a mesma coisa conosco. Nosso organismo é tão perfeito que sempre vai trabalhar de forma a gastar menos energia, e como manter hábitos antigos gasta muito menos energia do que criar novos, chegamos em uma encruzilhada. É, ninguém disse que era fácil mudar, mas certamente não é impossível, ou então estaríamos até hoje vivendo em cavernas, e eu com certeza não estaria falando sobre isso agora. Então que tal saírmos dessa caverna escura e fazer algo diferente? Ajuste agora aquele seu botão da sinceridade no nível máximo e veja quais as mentiras que tem contado para si mesmo. Seja honesto ao nível da crueldade e rebata todas as desculpas que tem dado para não ser mais ativo, mais saudável, carinhoso ou determinado. Entenda que sair da sua zona de conforto é o primeiro passo em direção à evolução, e aceite que pode ser difícil no começo, mas saiba que não há vitória sem luta, e muitas vezes vencer a si mesmo é o maior dos desafios.

Gabriela Bensen Pedroso
immoderatus.com.br

 

 

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