Gabriela Pedroso

A difícil arte de simplificar

De vez em quando eu ouço alguém dizer o quanto a vida é complicada e como tudo deveria ser mais simples. Sempre discordo. Não porque goste de complicações, mas porque já considero a vida, de forma geral, extremamente simples. Essa é a hora de você protestar: “Simples? Você enlouqueceu?”. Sim, me chame de louca, mas é o que eu penso. As complicações surgem por conta das pessoas, que sabem exatamente quais são as suas opções, mas não querem escolher, pois aquelas que são mais benéficas a longo prazo trazem em si algum tipo de dor ou sacrifício imediato, e aí o buraco é mais embaixo. Normalmente, diante de qualquer situação que se apresente, deparamo-nos com escolhas a fazer, opções que quase sempre envolvem as palavras sim ou não, e cada opção carrega como bagagem uma consequência que irá, em maior ou menor grau, moldar o nosso futuro. O que fazer então, diante de tantas alternativas? Ora, não é simples? Escolher e aplicar aquela que mais se encaixa na sua visão de vida ideal e que levará você rumo à sua melhor versão, ao seu local de destino desejado. Quer ser saudável e ficar em forma? Diga sim aos exercícios. Quer iniciar o próximo ano sem dívidas? Diga não aos juros do cartão de crédito e sim ao controle de gastos. Está infeliz no seu trabalho ou relacionamento? Existem duas opções: fazer algo a respeito ou não. O que há de tão complicado nisso? Pois é, aí que entram as pessoas… Na década de sessenta, o psicólogo Walter Mischel realizou um experimento com crianças de 4 a 6 anos. As crianças eram colocadas numa sala e o orientador as oferecia um marshmallow, com o argumento de que a criança poderia ficar com aquele único doce ou, caso aguardasse por quinze minutos sem comê-lo, ganharia mais um, ficando com dois. Em seguida o adulto saía da sala, deixando a criança sozinha. Apenas um terço das crianças conseguiram esperar pela segunda recompensa, ou seja, foram capazes de fazer um sacrifício e adiar a gratificação, que seria ainda maior que o prazer imediato de comer um marshmallow. Anos depois, observou-se um melhor desempenho físico, acadêmico e de relacionamentos nas crianças que conseguiram passar pelo teste. O experimento realizado pode não ser totalmente conclusivo quanto ao sucesso ou não daquelas crianças que souberam esperar, mas reforça algo que todos já sabemos: A nossa objetividade na hora de fazer escolhas fica altamente obscurecida pela possibilidade de obter prazer a curto prazo. Da mesma forma, a simples ideia de que alguma atitude poderá requerer sacrifício por um tempo já nos leva ao desespero. Qual a solução? Simplificar. Como? Mudando a perspectiva. Se somos impulsionados por impulsos tão primitivos, vamos tornar incrivelmente prazeiroza a sensação de ter seus objetivos conquistados, de persistir firme no caminho rumo à vitória e poder colher os frutos da sua dedicação e determinação, a ponto de o medo da dor se tornar irrelevante. Vai ser difícil? Provavelmente. Requer foco, disciplina e força de vontade, mas vale a pena. Sabe por quê? A recompensa será muito melhor do que um marshmallow.

Gabriela Besen Pedroso – immoderatus.com.br

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