Vivemos em uma era em que estar cansado virou motivo de prestígio. “Nossa, você está sumida!” — dizem com um tom de admiração, como se o sumiço fosse sinônimo de produtividade extrema. A rotina sobrecarregada virou medalha. O excesso de trabalho, um símbolo de sucesso. E o que antes poderia soar como um sinal de alerta agora é celebrado como virtude. O aplauso ao esgotamento está na moda — e tem custado caro. É o sucesso entre insônia e zolpidem. A alta performance travestida de adoecimento. E o que é pior: você e eu estamos aplaudindo isso.
Em muitas empresas, saúde mental ainda é vista como balela e não como parte da estratégia. Enquanto isso, profissionais adoecem em silêncio, tentando sustentar uma imagem de alta performance, mesmo quando o corpo e a mente já pedem socorro. O mundo do trabalho não aplaude quem se cuida, mas quem se esgota em silêncio. O orgulho de dizer que não tem tempo virou marca pessoal. Dormir virou luxo. Pausar virou culpa. E estar sempre ocupado virou status.
Essa dinâmica se intensifica com a dopamina digital. As redes sociais alimentam um ciclo de validação contínua: curtidas, metas, conquistas — tudo no modo piloto automático. A recompensa instantânea de ser visto, notado e reconhecido reforça o comportamento de excesso. Trabalhamos para sermos lembrados, admirados, promovidos. Mas, no fundo, muitos estão apenas tentando ser aceitos. A falsa sensação de liberdade esconde vínculos emocionais profundos com o trabalho — onde a entrega constante é o preço da sensação de valor pessoal. Sem sombra de dúvidas, nos perdemos em conceitos fúteis e voláteis. Trabalho virou algema e não libertação e crescimento.
Lideranças, por sua vez, foram ensinadas a medir seu próprio valor pela carga que suportam. São gestores que não conseguem delegar, não por desconfiança dos outros, mas porque aprenderam que só são bons o suficiente quando estão sobrecarregados. Nos disseram que bastava encontrar um propósito… esqueceram de avisar que ele precisa incluir pausas. Propósito sem limites também adoece. Afinal, todo excesso é nocivo.
É urgente repensar o que estamos chamando de sucesso. Precisamos parar de admirar quem vive no limite e começar a valorizar quem consegue viver com consciência e saúde. Não precisamos de heróis exaustos — precisamos de pessoas inteiras. Descansar é uma decisão estratégica, não um ato de fraqueza. Autocuidado não é ausência de ambição, é inteligência aplicada à longevidade. Produzir sem adoecer e desenvolver sem maltratar precisa deixar de ser exceção para se tornar cultura. Isso sim é sucesso. A próxima revolução no mundo do trabalho não virá de metas mais ousadas, mas de ambientes mais humanos. A mudança começará quando parar de adoecer virar estratégia — e não exceção. Pense nisso!
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