Leonardo Boff

Crise política e desesperança geral (Final)

Diferentemente pensava o físico britânico Freeman Dyson (*1923): “quanto mais examino o universo e os detalhes de sua arquitetura, mais acho evidências de que o universo sabia que um dia, lá na frente, nós seres humanos, iríamos surgir” (Disturbing the Universe, 1979, p. 250). Quase com as mesmas palavras o diz talvez o maior cosmólogo atual, Brian Swimme (The Universe Story,1996 p.84).
As tradições espirituais e religiosas são um hino ao sentido da vida e do mundo. Por isso observava o grande estudioso das utopias Ernst Bloch em seus dois grossos volumes O princípio esperança: “Onde há religião aí há sempre esperança”.
A questão do sentido é inadiável. Cito aqui o mais crítico dos filósofos Immanuel Kant: “Que o espírito humano abandone definitivamente as interrogações metafísicas (do sentido do ser e da existência) é tão inverossímil quanto esperar que nós para não respirar um ar poluído, deixássemos, uma vez por todas, de respirar” (Prolegomena zu einer jede künftigen Metaphysik, A 192, vol.3 p.243).
Porque o Cristo do Corcovado se escondeu atrás das nuvens, não significa que tenha deixado de existir. Ele está lá no alto da montanha estendendo seus braços e abençoando a nossa sofrida população.
No Brasil de hoje devemos recuperar a esperança de que o legado final da presente crise será a configuração de um outro tipo de Estado, de política, de partidos, de justiça e do próprio destino do país.
Termino com o profeta Jeremias que viveu no tempo do cativeiro babilônico sob o rei Ciro. Os habitantes da Babilônia zombavam dos judeus porque já não cantavam suas canções e, desanimados, dependuravam seus instrumentos nos galhos dos sicômoros. Perguntaram a Jeremias: “Você tem esperança”? Ao que ele respondeu: “eu tenho esperança de que o rei Ciro com todo o seu poder não poderá impedir o nascimento do sol”. E eu acrescentaria não poderá impedir o amor e as crianças que daí nascerem e renovarem a espécie humana.
Semelhante esperança alimentamos nós de que aqueles que provocaram esta crise, rasgaram a Constituição e não seguiram os ditames da justiça não prevalecerão. Sairemos mais purificados, mais fortes e com um sentido maior do destino a que nosso país está chamado em benefício para todos, a começar para os mais pobres e para a inteira humanidade.

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