Leonardo Boff

Revendo os dias passados, tenho a mente voltada para a eternidade: 80 anos de vida

Primeiramente agradeço a Deus por ter chegado até aqui e por ter sobrevivido. De pequeno, com alguns meses, estava destinado a morrer. Naqueles interiores profundos de Santa Catarina, Concórdia, não havia ainda médicos. Todos, desolados, diziam:”coitadinho, vai morrer”. Minha mãe, desesperada, depois de fazer o pão familiar num forno de pedra, deixou que ficasse morno e sobre uma pá de madeira me colocou por bons minutos lá dentro. A partir deste experimento derradeiro, melhorei e estou aqui como sobrevivente.
Achei que nunca passaria da idade de meu pai que morreu de um enfarte fulminante aos 54 anos. Sobrevivi. Escrevi um balance aos 50. Depois achava não passaria da idade de minha mãe que também morreu de enfarte com 64 anos. Sobrevivi. Fiz mais um balanço aos 60. Então, estava seguro de que não chegaria aos 70. Sobrevivi. Tive que escrever outro balanço aos 70. Por fim, pensei, convicto, de todas as maneiras, não chegarei aos 80. Sobrevivi. E tenho que escrever outro balanço. Como sai desmoralizado nas minhas previsões, não penso mais em nada. Quando chegar a hora que só Ele sabe, irei alegremente ao encontro do Senhor.
Relendo os vários balanços, surpreendemente e sem intenção prévia, vejo que há constantes que perpassam todas as memórias. Tentarei fazer uma leitura de cego que apenas capta o que é relevante. Sempre fui movido por alguma paixão mais forte que me levava a falar e a escrever.
A primeira paixão foi pela Igreja renovada pelo Concílio Vaticano II. Escrevi minha tese doutoral em Munique: A Igreja como sacramento; Igreja: carisma e poder (que me levou ao silêncio obsequioso) e Eclesiogênese: as CEBs reinventam a Igreja.
A segunda paixão foi pelo Jesus histórico, sua gesta que o levou à cruz. Escrevi Jesus Cristo Libertador; Nossa ressurreição na morte; O evangelho do Cristo cósmico; Via Sacra da justiça.
A terceira paixão foi por São Francisco de Assis, o primeiro depois do Último (Jesus).Escrevi Francisco de Assis: ternura e vigor; São Francisco: saudades do Paraiso; Comentário à sua oração pela paz.

Deixe seu comentário