Leonardo Boff

Onde está o poder hoje no mundo? (Parte final)

Os 29 gigantes planetários, 75% são bancos a começar pelo Bank of America e terminando com o Deutsche Bank, são tidos como “sistemicamente importantes”, pois sua eventual falência (não esqueçamos o maior deles, o norteamericano Lehamn Brothers que faliu) levaria todo o sistema ao abismo ou próximo a ele, com consequências funestas para a inteira humanidade. O mais grave é que não existe nenhuma regulação para o seu funcionamento, nem pode haver, porquando as regulações são sempre nacionais e eles atual planetariamente. Não existe ainda uma governança mundial que cuide não só das finanças mas do destino social e ecológico da vida e do próprio sistema-Terra.
Nossos conceitos se evaporam quando, nos recorda Dowbor, se lê na capa do Economist que o faturamento da empresa Black Rock é de 14 trilhões de dólares sendo que o PIB dos USA é de 15 trilhões e do pobre Brasil mal alcança 1,6 trilhões de dólares. Estes gigantes planetários manejam cerca de 50 trilhões de dólares, o equivalente à totalidade da dívida pública do planeta.
O importante é conhecer o seu propósito e sua lógica: visam simplesmente o lucro ilimitado Uma empresa de alimentos compra uma mineradora sem qualquer expertise no ramo, apenas porque dá lucro.
Vejamos um caso que afeta o Brasil, o tremendo desastre do vazamento de resíduos minerais no rio Doce pela Samarco em Minas Gerais. Ela está dentro do jogo das corporações mundiais. A Samarco, relata-nos Dowbor no estudo referido, é controlada pelo gigante mundial de base australiana BHP Billiton e a Vale; esta, por sua vez, controlada pela Valepar que, por sua vez vem controlada por grupos financeiros como o Bradesco. A BHP Billiton, não está nem aí por aquilo que aconteceu com a poluição do rio Doce, os estragos ecológicos e danos às populações. Seu interesse está num outro negócio: comprar e vender empresas e com isso auferir bons lucros. A opinião de um engenheiro que aconselha gastar um pouco mais para dar segurança à barragem, não conta para nada, pois se trata de uma eventual externalidade que não entra na contabilidade geral. E porque não foi ouvido, aconteceu aquilo que conhecemos. A quem reclamar: a Samarco, à Valepar, à controladora geral que está fora do Brasil, na Austrália, a H=BHP Billiton? Eis a razão porque tudo demora ou pouca coisa acontece.
Por esta razão, entre outras, entendemos iracúndia sagrada do Papa Francisco contra um sistema que apenas quer a acumulação à custa da pobreza das grandes maiorias e da degradação da natureza. Uma economia, diz ele “que tem como centro o deus dinheiro e não a pessoa: eis o terrorismo fundamental contra toda a humanidade” (no avião regressando da Polônia em setembro). Chama-o em sua encíclica ecológica de um sistema anti-vida e com tendência sucida (n.55).
Esse sistema é homicida, biocida, ecocida e geocida. Como pode tanta desumanidade prosperar sobre a face da Terra e ainda dizer: There is no Alternative”(TINA: Não há outra Alternativa)? A vida é sagrada. E quando sistematicamente agredida, chega o dia em que ela se vingará, destruindo aquele que a quer destruir. Esse sistema está buscando o seu próprio fim trágico. Oxalá a espécie humana sobreviva à essa irracionalidade que é uma verdadeira loucura.

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