Leonardo Boff

Ética e Espiritualidade face aos desastres ecológicos atuais

Terceiro: tomar a sério o princípio de cuidado e de precaução. Ou cuidamos do que restou da natureza e regeneramos o que temos devastado, como o MST que se propôs neste ano plantar um milhão de árvores nas áreas depredadas pelo agronegócio, ou então nosso tipo de sociedade terá dias contados. A precaução exige que não se coloquem atos nem se usem elementos cujas consequências não podemos controlar. Ademais, a filosofia antiga e moderna já viu que o cuidado é a pré-condição para que surja qualquer ser. É também o norteador antecipado de toda ação. Se a vida, também a nossa, não for cuidada, adoece e morre. A prevenção e o cuidado são decisivos no campo da nanotecnologia e da inteligência artificial autônoma. Esta, sem sabermos, pode tomar decisões e penetrar em arsenais nucleares e pôr fim à nossa civilização.
Quarto: o respeito a todo ser. Cada ser tem valor intrínseco e tem seu lugar no conjunto dos seres. Mesmo o menor deles revela algo do mistério do mundo e do Criador. O respeito impõe limites à voracidade de nosso sistema depredador e consumista. Quem melhor formulou uma ética do respeito foi o médico e pensador Albert Schweitzer (+1965). Ensinava: ética é a responsabilidade e o respeito ilimitado por tudo o que existe e vive. Esse respeito pelo outro nos obriga à tolerância, urgente no mundo e entre nós, sob o governo de extrema-direita que nutre desprezo aos negros, índígenas, quilombolas, LGBT e às mulheres.
Quinto: atitude de solidariedade e de cooperação. Esta é a lei básica do universo e dos processos orgânicos. Todas as energias e todos os seres cooperam uns com os outros para que se mantenha o equilíbrio dinâmico, se garanta a diversidade e todos possam co-evoluir. O propósito da evolução não é conceder a vitória ao mais adaptável mas permitir que cada ser, mesmo o mais frágil, possa expressar virtualidades que emergem daquela Energia de Fundo que tudo sustenta, da qual tudo saiu e para qual tudo volta. Hoje, devido à degradação geral das relações humanas e naturais devemos, como projeto de vida, ser conscientemente solidários e cooperativos. Caso contrário, não salvaremos a vida nem garantiremos um futuro promissor para a Humanidade. O sistema econômico e o mercado não se fundam na cooperação mas na competição, a mais desenfreada. Por isso criam tanta desigualdade a ponto de 1% da humanidade possuir o equivalente aos 99% restantes.
Sexto: fundamental é a responsabilidade coletiva. Ser responsável é dar-se conta das consequências de nossos atos. Hoje construímos o princípio da auto-destruição. O ditame categórico é então: aja de forma tão responsável que as consequências de tua ação não sejam destrutivas para a vida e seu futuro e não ativem a auto-destruição.
Sétimo: colocar todos os esforços na consecução de uma bio-civilização centrada na vida e na Terra. O tempo das nações já passou. Agora é o tempo da construção e da salvaguarda do destino comum Terra e Humanidade. Sua realização não se fará sem pormos em ação os marcos acima elencados.

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