*Por Giovanni Mello
Nos artigos anteriores desta série especial, celebramos os 15 anos do curso de Engenharia de Pesca da UDESC/Laguna e relembramos como essa graduação marcou a história da cidade, da Universidade e da vida de tantos profissionais formados à beira da Lagoa Santo Antônio dos Anjos. Começamos com a trajetória inspiradora de Sara Mello Pinho — um exemplo de como o ensino público, gratuito e de qualidade pode transformar talentos locais em referências internacionais.
Agora, seguimos viagem por este mosaico de histórias. Nesta edição, apresentamos três Engenheiras(os) de Pesca que, cada um a seu modo, mostram a diversidade de áreas e caminhos que essa formação pode abrir: Natalia Fernandes Pereira, dedicada à produção de camarões marinhos e à sanidade na aquicultura; Ricardo Carriero, profissional que construiu carreira sólida no beneficiamento e na industrialização do pescado, além de liderar processos de gestão e inovação no setor aquícola; e Thaís Agda Rodrigues da Cruz Primo, pesquisadora e empreendedora que transforma microalgas em soluções ambientais inovadoras.
São percursos distintos, mas unidos por um mesmo ponto de partida: a UDESC/Laguna, que deu asas aos sonhos e impulsionou carreiras que hoje cruzam fronteiras.
Natalia Fernandes Pereira
Engenheira de Pesca | Mestre em Produção e Sanidade Animal | Mar do Brasil
Natural de Laguna, do bairro Cabeçuda, Natalia nasceu em 2 de outubro de 1995, filha de Luciane Fernandes Teixeira e Valmiré Carlos Pereira. Ingressou no curso de Engenharia de Pesca logo após o ensino médio, movida pelo interesse em áreas ligadas ao meio ambiente e aos animais, e também pela oportunidade de estudar perto de casa em uma Universidade Pública e de qualidade.
Graduou-se no segundo semestre de 2019, com uma trajetória marcada por dedicação. Participou de projetos de iniciação científica no Laboratório GAIA, sob orientação da professora Micheli Cristina Thomas, com foco em aquicultura. Realizou estágios em indústrias locais, participou de congressos e feiras dentro e fora de Santa Catarina e aprimorou suas habilidades práticas na área que definiria sua carreira.
No estágio final, atuou na empresa Mar do Brasil, na Caputera. Seu desempenho rendeu uma contratação imediata, e desde então ela integra a equipe, trabalhando diretamente no cultivo de camarões marinhos e na gestão do empreendimento. Sua rotina envolve desde a preparação de viveiros e berçários, o monitoramento da qualidade da água e o manejo alimentar, até a avaliação da saúde dos animais ao longo do ciclo produtivo.
Na Mar do Brasil, Natalia também participa de iniciativas de pesquisa voltadas à piscicultura marinha. Entre 2019 e 2021, acompanhou integralmente o cultivo piloto da garoupa-verdadeira (Epinephelus marginatus), um marco pioneiro no Brasil e de grande relevância para a conservação, já que se trata de uma espécie altamente ameaçada de extinção. Mais recentemente, tem atuado no acompanhamento técnico da produção de miraguaia (Pogonias courbina), em um projeto de pesquisa desenvolvido em parceria com a UFSC, UDESC e UNIVALI, fortalecendo a integração entre a produção aquícola e a ciência aplicada.
Em 2023, concluiu o Mestrado em Produção e Sanidade Animal, pesquisando biorremediação aplicada à carcinicultura — um tema essencial para a sustentabilidade do setor. Hoje, Natalia é exemplo de como o curso da UDESC transformou vidas e abriu caminhos, inspirando novas gerações que sonham com uma carreira sólida, técnica e alinhada à preservação ambiental.
Ricardo Carriero
Engenheiro de Pesca | MBA em Engenharia de Produção | Pós-graduado em Piscicultura | MBA em Gestão Empresarial | MBA em Vendas | Bomar Pescados
Nascido em 4 de agosto de 1994 e também natural do bairro Cabeçuda, Ricardo é filho de Mércia Viana e Vicente Ricardo Carriero Lopes. Entrou no curso de Engenharia de Pesca em 2012, logo após o ensino médio, motivado pelo interesse em áreas que unissem Ciências Exatas e Biológicas — e pela oportunidade de estudar na cidade natal.
No último ano de graduação, estagiou na Anjo Pesca, indústria de beneficiamento de pescado próxima ao Terminal Pesqueiro Público de Laguna. Ali, desenvolveu um programa de rastreabilidade, controle de estoque e produção, além de atuar no controle de qualidade, monitorando o pescado desde a recepção até o armazenamento. Formou-se no fim de 2016.
Em 2017, ingressou na Lago Pesca/Japhi Pesca, também em Cabeçuda, onde foi Supervisor de Qualidade e depois Gerente de Produção. Lá, implantou o Sistema Atak, software de gestão que integrou a rastreabilidade e o controle da produção em tempo real. O projeto foi reconhecido nacionalmente no Prêmio de Inovação Aquícola, em Santa Fé do Sul (SP).
Em 2020, assumiu a gerência de uma indústria de tilápia em Perdizes (MG), na Riviera Pescados, onde aperfeiçoou sistemas de gestão, aumentou a produtividade e iniciou a produção de filé fresco para grandes redes de São Paulo. Quase um ano depois, aceitou o desafio de atuar na Bomar Pescados, empresa cearense que produz tilápias e camarões. Começou como Gerente Industrial e hoje é Gerente Comercial, liderando estratégias de produção e comercialização que conectam produtores a mercados exigentes, com foco em qualidade, eficiência e crescimento sustentável.
Paralelamente, seguiu investindo na própria formação: MBA em Engenharia de Produção, pós em Piscicultura, MBA em Gestão Empresarial e MBA em Vendas. Sua trajetória comprova que a Engenharia de Pesca pode abrir portas para posições estratégicas e de liderança em toda a cadeia produtiva do pescado.
Thaís Agda Rodrigues da Cruz Primo
Engenheira de Pesca | Mestre em Ciências Ambientais| Doutoranda em Ciências Ambientais | CEO da Alga&nzyme
Natural de Santos/SP, mas radicada em Laguna desde os seis anos, Thaís nasceu em 20 de agosto de 1993, filha de Maria Selma da Cruz Primo e Antônio Rodrigues Primo Filho (in memoriam). Cresceu entre os bairros Mar Grosso e Magalhães, e ingressou na Engenharia de Pesca em 2011, incentivada pelos pais a aproveitar a oportunidade de estudar em uma Instituição Pública e gratuita perto de casa.
No início, sentiu-se indecisa quanto à área de atuação, até ter contato com o cultivo de microalgas em uma disciplina da graduação — e ali encontrou sua vocação. Foi bolsista por quatro anos no Laboratório de Cultivo e Biotecnologia de Algas (LCBA/UDESC), sob orientação do professor Fábio de Farias Neves, onde aprendeu sobre pesquisa, inovação e empreendedorismo.
Fez estágio final na UFSC, aprofundando-se no manejo de microalgas. Após a graduação, trabalhou na Secretaria de Pesca e Aquicultura de Laguna e, depois, na Aquaculture Brasil, onde atuou na área comercial e de gestão. Em 2020, iniciou o mestrado em Ciências Ambientais pela UDESC/Lages, desenvolvendo estudos sobre o uso de microalgas no tratamento de efluentes, unindo Engenharia de Pesca e Engenharia Ambiental e Sanitária.
Os resultados do mestrado impulsionaram a criação da Alga&nzyme – microalgas para soluções ambientais, startup que trata efluentes de setores agroindustriais e domésticos e transforma a biomassa resultante em produtos biotecnológicos inovadores. O negócio foi contemplado por editais da FAPESC/FINEP, permitindo a implementação e expansão de protótipos industriais.
Atualmente incubada no Parque Tecnológico Orion, em Lages, Thaís segue à frente da empresa como CEO e também cursa doutorado em Ciências Ambientais na UDESC. Sua trajetória mostra como a Engenharia de Pesca pode gerar inovação e impacto em escala global, conectando ciência, empreendedorismo e sustentabilidade.
Essas três histórias reafirmam a essência do que celebramos nesta série: a força de uma formação sólida, enraizada em Laguna, mas capaz de gerar impacto muito além das fronteiras geográficas. Seja nos viveiros de camarão do litoral catarinense, nas linhas de produção e comercialização de pescado ou nos laboratórios de biotecnologia de algas, esses Engenheiros de Pesca provam que o conhecimento aprendido aqui pode transformar setores inteiros e inspirar novas gerações.
Na próxima edição, novas páginas serão escritas com outros três egressos que continuam a levar o nome de Laguna para diferentes regiões e áreas de atuação. Porque, com formação sólida e propósito claro, os caminhos se abrem e as conquistas ultrapassam qualquer fronteira.