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Engenharia de Pesca na UDESC/Laguna:

De sonhos nascentes a trajetórias que inspiram

No artigo anterior, publicado na edição especial do JL comemorativa aos 349 anos de Laguna, relembramos o nascimento do curso de Engenharia de Pesca da UDESC/Laguna como um divisor de águas para a cidade e para o ensino superior público na região Sul de Santa Catarina.
Agora, seguimos viagem por um novo trecho dessa história — desta vez, guiados pelas trajetórias de quem viveu essa transformação por dentro e segue deixando marcas pelo caminho.
Ao longo dos últimos 15 anos, a UDESC formou dezenas de Engenheiras e Engenheiros de Pesca que hoje atuam nas mais diversas frentes: beneficiamento e industrialização do pescado, biotecnologia de algas, consultorias técnicas, docência, empreendedorismo, extensão, gestão de recursos pesqueiros, pesquisa científica e produção aquícola. Muitos desses profissionais começaram sua jornada aqui mesmo, nas margens da Lagoa Santo Antônio dos Anjos, e hoje seguem ampliando horizontes sem jamais esquecer de onde vieram.
A partir deste segundo artigo da série comemorativa, vamos apresentar 15 dessas histórias — todas reais, todas singulares. A cada edição, três egressos lagunenses nos ajudam a compreender, por meio de suas vivências, como a universidade pública pode ser ponto de partida para mudanças profundas: na vida de cada um, nas comunidades onde atuam e, em muitos casos, em todo o setor pesqueiro e aquícola nacional (e internacional!).
Para abrir a série, optamos por destacar, de forma especial, uma única trajetória: a de Sara Mello Pinho. Assim, além de marcar simbolicamente esse novo momento, deixamos também um convite à curiosidade dos leitores para as histórias que virão nas próximas edições.
E não é por acaso que começamos por ela. A trajetória de Sara Mello Pinho reúne, de forma tocante e poderosa, muitos dos elementos que tornam a história do curso de Engenharia de Pesca da UDESC/Laguna tão única: pertencimento, superação, excelência acadêmica, impacto global e, sobretudo, raízes profundas. Sara representa não apenas a realização de um sonho individual, mas o potencial coletivo que nasce quando o ensino público encontra talentos locais e os impulsiona para o mundo. Sua caminhada abre a série porque traduz, com autenticidade e brilho, tudo aquilo que o curso sonhou ser.

Sara Mello Pinho

Engenheira de Pesca | Doutora em Aquicultura
University of Melbourne – Austrália

Nascida em 25 de novembro de 1992, em Laguna, Sara é filha de Nara Regina Mello Pinho e de Gilberto Francisco Martins Pinho (in memoriam), o Binga — considerado por muitos um dos maiores pescadores de praia que Laguna já teve.
Cresceu com os pés na areia e o olhar voltado para o mar, mas a Engenharia de Pesca não foi sua primeira escolha. Depois de uma breve tentativa em outro curso, decidiu ingressar na UDESC/Laguna com uma motivação parecida com a de muitos colegas: “é de graça, tem qualidade, é na minha cidade… vou tentar e ver no que dá.” E deu certo, já que foi assim que descobriu sua vocação e, mais do que uma profissão, encontrou o ponto de partida para uma trajetória que cruzaria oceanos.
Segundo ela, a UDESC e, em especial, seus professores e orientadores mostraram que o mundo era muito maior do que imaginava. Como costumavam dizer seus pais: “os filhos foram criados para o mundo”; e a Engenharia de Pesca lhe deu os primeiros meios concretos para explorá-lo.
Durante a graduação, participou ativamente de projetos de pesquisa e extensão nos laboratórios LAq e LANOA (liderados pelos professores Giovanni Lemos de Mello e Maurício Gustavo Coelho Emerenciano), além de realizar estágios em universidades e empresas do setor, o que lhe proporcionou conhecer quase todo o Brasil. Sara lembra, com carinho, dos experimentos e sistemas que ajudou a montar no Sambódromo — experiências que pareciam simples, mas que, sem saber, deram estrutura para o que viria depois.
Sua primeira vivência internacional aconteceu ainda na graduação, com um estágio na Universidade Nacional Autônoma do México. “Aquela viagem abriu meus olhos, me fez perceber que eu podia ir longe, aprender, contribuir com algo diferente”, conta. A partir dali, decidiu seguir carreira acadêmica internacional. Fez mestrado em Aquicultura na Unesp, em Jaboticabal/SP, com um estágio na Purdue University (EUA), e depois um doutorado com dupla titulação entre a Unesp e a Wageningen University, na Holanda. “Antes de entrar na UDESC, eu não acreditaria que aquela menina, saindo de Laguna, um dia faria doutorado na melhor universidade do mundo em produção de alimentos”, comenta, referindo-se à Wageningen, ranqueada como número 1 global em Agricultura e Ciências Florestais.
Após o doutorado, trabalhou por dois anos na Alemanha, onde, integrou projetos internacionais com parceiros de diversos países da Europa e da África. Desde abril de 2024, vive na Austrália e atua como pesquisadora na University of Melbourne, onde co-lidera um grupo de pesquisa em aquicultura sustentável, com foco em sistemas eficientes, circulares e ambientalmente responsáveis, atuando também em projetos na Indonésia, Malásia, Tailândia e Índia.
A tese de doutorado da Sara, intitulada “FLOCponics: the integration of biofloc technology and plant production”, conta com 7 capítulos e mais de 200 páginas, tendo sido escrita e defendida inteiramente em inglês. Ao longo do doutorado, Sara publicou mais de dez artigos científicos em revistas internacionais de alto fator de impacto. Ela foi, inclusive, responsável por cunhar um novo termo na literatura científica global: FLOCponics, resultado de anos de dedicação a pesquisas na área de aquaponia com bioflocos. Se você der um “google”, vai entender a relevância do termo e da pesquisa dela!
Apesar de viver fora há muitos anos, Sara mantém raízes profundas em Laguna e no Brasil. Faz questão de cultivar colaborações com universidades brasileiras e parceiros locais, pois acredita que a ciência deve ser ponte, não fronteira. Espalha, assim, o nome de Laguna pelo mundo, com orgulho e propósito. “Minha carreira começou ali, com a pesca, na minha cidade. E continua comigo onde quer que eu vá, em tudo que faço.”
Na próxima edição, seguiremos celebrando o talento que brota daqui. Vamos conhecer as histórias de mais três lagunenses que escolheram a Engenharia de Pesca como caminho e têm deixado sua marca em diferentes áreas do setor: Natalia Fernandes Pereira, Ricardo Carriero e Thaís Agda Rodrigues da Cruz Primo. São trajetórias que reafirmam a potência transformadora da universidade pública e a diversidade de possibilidades abertas pela formação na UDESC/Laguna. Não perca — porque o que nasce à beira da lagoa pode, sim, alcançar o mundo.

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