Devemos, então, contrapor-lhe um outro paradigma. Este será o cuidado. Mais que uma virtude, o cuidado comparece como um novo paradigma de relação para com a natureza e a Terra: não agressivo, amigo da vida e respeitador dos demais seres. Se o paradigma dominante é do punho fechado para submeter, o do cuidado é a mão estendida para se entrelaçar com outras mãos e proteger a natureza e a Terra.
Segundo o antigo mito do cuidado que ganhou sua melhor elaboração filosófica em Martin Heidegger em Ser e Tempo (& 41-43) o cuidado pertence à essência do ser humano. Segundo o mito, o cuidado vem primeiro, pois significa o pressuposto que deve existir para que algum ser possa irromper na existência. Sem o cuidado nenhum ser emerge e se mantém na existência. Definha e morre.
Hoje mais do que nunca precisamos cultivar o paradigma do cuidado, pois tudo, de certa forma, está descuidado. É o cuidado que dá origem a uma cultura da solidariedade contra a competição, da partilha contra o individualismo, da autolimitação, contra os excessos do poder, do consumo sóbrio, contra o consumismo e o desperdício.
Somente a incorporação do cuidado, como paradigma e como cultura nos pode, segundo a encíclica papal “Sobre o cuidado da Casa Comum” “alimentar uma paixão pelo cuidado do mundo… uma mística que nos anima, encoraja e dá sentido à ação pessoal e comunitária” (n. 216).
Para realizar esta diligência a Eco-teologia da Libertação teve que dialogar e aprender com os novos saberes das ciências da Terra e da vida. Especialmente é chamada a contribuir com os valores do respeito, da veneração e do cuidado, próprios da fé, valores fundamentais para uma ecologia integral. Finalmente uma Eco-teologia da Libertação testemunha, contra todas as ameaças, a esperança de que “Deus, o soberano amante da vida” (Sab 11,26) não permitirá que nossa humanidade, um dia assumida pelo Verbo da vida, venha desaparecer da face da Terra.
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