Aquicultura e Pesca

Altas densidades foram as responsáveis pelo fim da carcinicultura na região de Laguna?

Esta semana uma aluna me procurou com a seguinte pergunta: “Professor, a culpa pelo surgimento da enfermidade conhecida como síndrome da mancha branca nos camarões cultivados foi dos produtores, né? Eles abusavam das densidades de estocagem, e aí o vírus se manifestou e tudo acabou!!”. Não sei quantas vezes já tive que responder esta pergunta. Sem dúvida, tantas outras pessoas envolvidas direta ou indiretamente com a carcinicultura de Laguna e região também já tiveram que responder. Ou tentar responder…
Lá se vão quase 12 anos desde o início das mortalidades devido ao vírus da mancha branca e cada vez mais fica fácil transformar qualquer inverdade em realidade. Uma pena. E aqui neste espaço, de forma alguma, faremos uma defesa dos produtores, ou uma defesa de qualquer outro órgão ou qualquer pessoa. Não é o caso.
Esta enfermidade, nos anos posteriores a 2004, manifestou-se em praticamente todos os estados brasileiros que cultivam camarão marinho. A mancha branca já causou perdas econômicas em mais de 50 países. O vírus já foi detectado inclusive na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. Neste estuário, não existe nenhuma fazenda de cultivo num raio de dezenas ou centenas de quilômetros.
O Complexo Lagunar Sul reuniu vários gatilhos importantes para o surgimento da doença em nossas águas. Na primeira região onde ocorreram as manifestações, inclusive (Imaruí e atual município de Pescaria Brava), todas as fazendas criavam camarões em densidades entre 15 e 25 camarões por metro quadrado. Enquanto isto, no nordeste do País, fazendas criavam o mesmo crustáceo com densidades entre 30 e 100 camarões/m². Hoje, os novos modelos de produção, preconizam densidades entre 100 a 400 camarões por metro quadrado. Resumindo, é fato, as densidades não foram, de longe, as responsáveis pelo surgimento da mancha branca em Laguna.
Entretanto, se fossemos discutir o número de fazendas instaladas no mesmo Complexo Lagunar, as quais totalizam 90 (noventa), aí podemos ter uma pista interessante. Talvez tenhamos ultrapassado algum limite? Quem sabe! Como pode ser sustentada esta teoria? Há apenas 12 (doze) quilômetros em linha reta do Complexo Lagunar, no município de Imbituba, às margens da Lagoa de Ibiraquera (portanto, outro estuário), uma fazenda que sempre cultivou o mesmo camarão, com a mesma ração, manejo, condições, etc., nunca foi acometida pela enfermidade. Produz muito bem camarões, até hoje. Inclusive, com as mesmas densidades de sempre, em torno de 25 camarões/m², conforme autoriza a FATMA na licença ambiental do empreendimento.
Contudo, especialistas acreditam também que não é só a questão do número de fazendas, uma versus noventa, e sim a qualidade de água do Complexo Lagunar (Lagoas Mirim, Imaruí, Santo Antônio, Santa Marta, Camacho, etc.) versus a qualidade de água da Lagoa de Ibiraquera. Quem sabe, também?
Há ainda vários outros aspectos e parâmetros climático-ambientais a serem questionados. Cuidados têm que ser tomados, principalmente quando está se emitindo uma opinião técnica sobre algo tão importante e que sucumbiu com centenas de postos de trabalho e milhares de reais em investimentos.
O que podemos dizer, é que o futuro da aquicultura, sem dúvida, estará baseado em sistemas intensivos e superintensivos de produção, com densidades de 400 ou mais camarões por metro quadrado. Para peixes, as biomassas ultrapassarão os 100 quilos por metro cúbico. E este futuro já está muito próximo.

Por:
Prof. Dr. Eduardo Guilherme Gentil de Farias, Engenheiro de Pesca
Prof. Dr. Giovanni Lemos de Mello, Engenheiro de Aquicultura
Prof. Dr. Jorge Luiz Rodrigues Filho, Biólogo
Prof. Dr. Maurício Gustavo Coelho Emerenciano, Zootecnista
aquicultura.pesca@gmail.com

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