Uma prosa sobre poesia

Sobre Amores

Amores vem e vão… Alguns chegam e permanecem. Outros nascem com a gente, às vezes até lutamos contra, mas no final, percebemos quão inútil foi usar força contra isso.
No ultimo dia dos pais, acordei cedo para o café, o dia se fazia lindo e cheio de presença. O sol batia sobre a mesa iluminando o bolo o qual tinha preparado no dia anterior. Gosto de curtir cada detalhe, cada movimento em dias assim. Deparei-me fazendo a seguinte pergunta, – Que amor é esse de pai?
Lá em casa, na casa onde cresci, somos três filhos, mesma essência e opostas personalidades. Vi meu pai se deparando com essas três figuras tentando se encaixar no mundo de cada um, às vezes até desengonçado, do tipo que puxa a coberta de um e destapa o pé do outro. Como os movimentos da vida.
Parei neste instante, enchi a xícara com mais 300 ml de café para abrir este “pacote” cuidadosamente, sem pressa, sem julgamento, apenas como observadora do amor manifestado nos movimentos.
Cada um de nós traz suas próprias dores, gatilhos são acionados por terceiros que nos inflamam sem nos darmos conta… e, automaticamente reivindicamos na ação ou inação do outro, justificando nossos atos pelo comportamento alheio. Vi meu pai nisso!
Às vezes cobramos um amor exclusivo, coisa que nem nós possuímos ou talvez até nem queiramos. Reivindicar uma cadeira cativa no coração de alguém é aprisionar e aprisionar-se. Amores são livres. E não falo de libertinagem, falo de hospedagem.
O amor de pai, de mãe, filho, amigo, parceiro, seja lá que título receba – deve ser livre, acessível, com um lugar reservado somente para o viajante cansado que repousa e segue viagem. Um amor que não se ausenta, mas que tem o perfume de presença constante, capaz de nos embriagar em momentos de silencio e vazio.
Não busquemos amores cativos, busquemos sim, amores livres. Corações gigantes capazes de acolher tantas presenças que possam perfumar nossa jornada aqui e para sempre. Deixe espaço. Não se faça morada eterna, não dispute lugar, não estabeleça regras rígidas, porque a ausência também é uma forma de amor.

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