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Quem dá mais? A casa da “Esquina do Abc” vai a leilão

Localizada no coração do Centro Histórico, antiga sede do Sine tem lance inicial de R$ 990 mil e carrega memórias centenárias

Por trás das janelas silenciosas e da fachada discreta na esquina entre as ruas Raulino Horn e Barão de Rio Branco, repousa uma das construções mais emblemáticas do Centro Histórico. A casa que será leiloada no próximo dia 21, às 13h, carrega em seus alicerces memórias de uma cidade em movimento e a marca de personagens que ajudaram a escrevê-la.
O imóvel, de 242,85 m² de área construída e terreno de mesma metragem, está avaliado em R$ 990 mil, com possibilidade de parcelamento, conforme o edital divulgado pela Pimentel Leilões.
O governo do Estado, atual proprietário, incluiu a casa em um pacote de imóveis destinados à venda. Os interessados devem se cadastrar previamente no site da leiloeira e estar atentos às regras de pagamento, que vão desde quitação à vista até parcelamento em seis vezes, com entrada de 30%.
Mas o valor financeiro é apenas um aspecto. A casa da “Esquina do ABC”, como era conhecida antigamente, é um pedaço vivo da memória urbana lagunense. Em tempos idos, ali funcionava o armazém do Sr. Acácio Soares Moreira, comerciante português que, diferente de seus conterrâneos, nunca se naturalizou brasileiro. Era conhecido por sua inteligência, gentileza e por reunir em sua loja nomes influentes da sociedade da época. Dizem que bastava atravessar a porta para mergulhar numa espécie de fórum informal da cidade.
O curioso apelido “esquina do ABC” surgiu por conta das iniciais dos nomes de quatro figuras que ocupavam as casas das esquinas próximas: Acácio, Américo, Bembem e Candomil (com “o” mesmo). O prédio, com área nos fundos e vista para a Praça República Juliana (antiga Conde d’Eu), dominava um quarteirão histórico, abraçando também o início da hoje Rua Pinto Bandeira, um trecho conhecido no passado como “Rua das Cozinhas”.
Nos anos mais recentes, a casa foi a Alfaiataria do Aladin (o mágico das tesouras) e foi sede do Sine (Sistema Nacional de Emprego) e, anteriormente, foi adquirida pelo governo estadual com a intenção de abrigar a produção de artesãos locais. No entanto, sem destinação definitiva, entrou para o rol dos imóveis desocupados do patrimônio público.
Apesar das décadas, a casa mantém sua estrutura original. Não passou por grandes modificações, preservando características arquitetônicas que remetem a outro tempo, um valor inestimável em um centro que luta para conservar sua identidade diante da modernização.
O projeto de restauração da casa histórica, foi recentemente aprovado pelo Iphan. Desenvolvido pela equipe da TS2 Arquitetura, o projeto executivo contempla melhorias estruturais e funcionais, incluindo a recuperação de esquadrias, substituição de pisos, adequações para acessibilidade e atualização das instalações. As intervenções respeitam as características originais do imóvel, com destaque para o uso de materiais como madeira ipê e granito branco Siena, garantindo a preservação do valor histórico e arquitetônico da edificação.
Agora, com o anúncio do leilão, surgem as perguntas inevitáveis: quem comprará a casa da esquina mais famosa da cidade? Terá ela novo destino como residência, espaço cultural ou empreendimento comercial? Seja qual for o caminho, o que se espera é que as paredes que um dia abrigaram memórias, vozes e encontros sigam vivas e não apenas como lembrança em páginas de livros.
No mais, o martelo está prestes a bater. Alguém se habilita?

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