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O Cair Por Terra abençoado

jordanaAos quatro anos, incentivada pelos pais, Jordana Menezes começou a ler e escrever. O tempo passou, e a menina, hoje com 15 anos, tem verdadeira paixão pelo universo das palavras. Sentimento suficiente para faze-la escolher, para um futuro breve, o Jornalismo como profissão. Natural de Laguna, estudante do 2º ano do Colégio Stella Maris, ela explica da forma mais clara e direta possível sua decisão: “Tenho uma facilidade e um entrosamento muito maior com as palavras do que com os números”. Apaixonada por tudo que diz respeito a Simbologia, Jordana já foi aprovada no vestibular da Acafe, mas pretende conquistar uma vaga na Universidade Federal de Santa Catarina ou do Rio Grande do Sul. Em uma de suas aulas da disciplina de História, ministrada pelo professor Rodrigo Bento, foi instigada a escrever sobre a trajetória da localidade de Caputera, desafio prontamente aceito. O resultado, os leitores podem apreciar nas próximas linhas:

 

Era uma vez em um lugar tão, tão, tão distante… Índios Carijos e Tupi-Guaranis habitando um mesmo espaço, deixando marcas culturais em uma pequena vila. Os costumes passavam de geração em geração… Até que, chegou a hora da tão falada colonização. Colonizadores, vindos do Desterro (atual Florianópolis), infiltraram-se na pequena vila. E assim começou a miscigenação. Espanhóis, portugueses e nativos brasileiros criando sua própria cultura. Com a Guerra dos Farrapos, imigrantes precisavam de uma passagem de ida e volta à Imaruí. A pequena vila servia como atalho pela água, e com canoas de seus habitantes. Cada viagem ouvia-se a frase “caí por terra”, mais uma travessia e ouvia-se “caí por terra”… “Caí por terra” deu origem ao atual nome da pequena vila, Caputera. De um começo quase desconhecido, seu desenvolvimento foi tardio. Já no século XX, o bairro era formado por casas de pau-a-pique e a agricultura de subsistência era predominante. Seu Felisberto e Seu Donato Dias, faziam o transporte de areia com canoas de mastro, para comercializar no Centro de Laguna; o cal era trabalho de seu Sebastião Leonel, Seu Irineu José Antônio e Seu Antônio Aires Cardoso (trabalhava também com forno de casca, em sua terra localizava-se o Casqueiro); Seu Nicolau Firmino trabalhava com redes de peixe; Seu Fernando Antônio dos Santos e Seu Aparício de Oliveira eram os comerciantes locais; Seu Nascimento, Seu Francisco Manoel de Souza, Seu Marilio Celestino e Seu Rosalino possuíam engenhos, onde era produzida a farinha de mandioca e o polvilho; as mulheres eram responsáveis pelas lavouras. Por ser uma comunidade pobre e sem estrutura, seus habitantes recorriam ao Centro da cidade ou às cidades vizinhas. Um relato de uma filha da Caputera comprova isso: “Meus pais passaram muitas dificuldades pra que eu pudesse concluir meus estudos.Meu pai transportava lenha para o Centro de Laguna com carro de boi, onde muitas vezes, minha mãe o acompanhava vendendo frutas e verduras. Saiam de casa por volta das duas da manhã e só retornavam, aproximadamente, duas da tarde.” O índice de analfabetismo era alto, considerando também que, não haviam escolas na comunidade. Crianças e jovens se locomoviam de bicicleta ou, muitas vezes, caminhando até o Centro. Devido á distancia, estudantes passavam mal durante o trajeto, era um longo período sem comer, há relatos de frequentes desmaios. A comunidade sempre muito católica, sentia a ausência de um templo. As missas eram realizadas nas casas dos moradores e, os padres passavam as noites nas mesmas. Ficavam, aproximadamente, três dias atendendo a população. Com a necessidade, a comunidade se reuniu para a contratação de pedreiros e materiais para a construção da Igreja. Seu Felisberto e Seu Donato ajudaram com a areia, e a população se revezava para abrigar os trabalhadores. O mesmo sistema foi usado na construção da escola. As professoras, vindas de longe, abrigavam-se nas casas dos moradores. Dona Maria e Tia Luci foram as primeiras professoras de berço da Caputera. Como não havia postos de saúde na época, o Dr, Paulo Carneiro cuidava da saúde dos habitantes. Fazia visitas nas casas e, cuidava dos adoentados. Em forma de gratidão o campo de futebol local foi batizado com seu nome. A política sempre foi motivo de discussões, de um lado Velho Cardoso (UDN); de outro Velho Fernando (PSD). A comunidade dividia opiniões. Muitas vezes, a agressão física determinava o fim do debate. Mesmo com muitos jovens buscando novas oportunidades nas cidades grandes, os que ficavam sempre impulsionaram a velha “pequena vila”. Uma comunidade formada de boas histórias e belos patriotas. O desenvolvimento se deve aos que acreditaram, esses sim fizeram a diferença. Hoje, as velhas histórias dos já falecidos sonhadores são contadas com brilhos nos olhos por suas gerações. Apesar de um grande passo concluído, as novas gerações ainda estão em construção.
*Estudante do Segundo Ano do Ensino Médio,
no Colégio Stella Maris

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