Opinião

40 anos do tombamento em Laguna o testemunho de Carlos Drummond de Andrade

Comemorando o dia do Patrimônio Histórico devemos, por obrigação, lembrar dos primeiros atos de tombamento na cidade, com a preservação da antiga Casa de Câmara e Cadeia, hoje Museu Anita Garibaldi na praça República Juliana, com tombamento federal em 1954, com parecer do arquiteto e historiador Paulo Thedin Barreto em processo iniciado em 1953, concluído com relatório favorável no ano seguinte, no parecer final constam a aprovação do arquiteto Lúcio Costa e a recomendação final assinada pelo poeta Carlos Drummond de Andrade, ao então ministro Rodrigo Melo Franco de Andrade, homenageado pela data de seu nascimento com o Dia Nacional do Patrimônio. Lá se vão mais de setenta anos. No plano municipal as ações preservacionistas tiveram início com a Lei nº21/1974, sancionada pelo então prefeito Francisco de Assis Soares que criou o Conselho Municipal de Cultura, no dia 23 de setembro de 1974. A criação desse Conselho Municipal compôs a base jurídica para a viabilização da Lei Municipal de Tombamento, em 03 de novembro de 1977, pelo então prefeito Mário José Remor. A partir daí foram diversos os tombamentos que garantiram a preservação de boa parte de nosso patrimônio, como a Casa de Anita, casario luso-brasileiro da rua Raulino Horn e Praça República Juliana, Palacete Polidoro Santiago, Fortim do Atalaia e Casa Pinto D’Ulisséa, entre outros.
Foi marcante o tombamento municipal da ponte de ferro das Laranjeiras, entre as Lagoas Santo Antônio e a de Imaruí, no bairro da Cabeçuda. Construída pelos ingleses no início da década de 1880, podemos classificá-la como principal referência para o desenvolvimento da arquitetura eclética na cidade. A ponte representa o momento econômico mais rico que Laguna já viveu, ao mesmo tempo em que ela permitia que o carvão da bacia carbonífera catarinense chegasse aos nossos portos, Laguna e Imbituba, abastecendo as siderúrgicas nacionais. Ela também transportava os produtos da colonização italiana ao comércio lagunense, com os trens não voltando vazios para Lauro Muller, levando manufaturas e produtos industrializados que careciam às populações rurais. O vão sul da ponte era móvel, permitindo a livre circulação dos veleiros de transporte lagunar com seus mastros. A ponte esteve em vias de ser demolida no ano de 1988, quando a Companhia Siderúrgica Rio-Grandense adquiriu como ferro de sucata da rede ferroviária, aquele importante patrimônio histórico. Quem a salvou foi a lei de Tombamento municipal de Laguna. Pelo decreto lei nº 034 de agosto de 1988, o prefeito João Gualberto Pereira, no uso de suas prerrogativas considerou a ponte como Bem Cultural do município e determinou seu tombamento. O ato foi publicado no Diário Oficial de Estado de SC em 17 de agosto daquele ano, (exatamente o Dia Nacional do Patrimônio) colocando um ponto final nos planos de destruição daquele patrimônio. Consta que a infraestrutura da Siderúrgica Rio-Grandense já se mobilizava para seus planos deletérios.
O TOMBAMENTO MUNICIPAL evitou o desastre.
Por outro lado, a defesa do tombamento do centro histórico de Laguna veio mais tarde. O professor Alcídio Mafra, relator do processo junto ao Conselho Nacional de Cultura, em diversos encontros, nos dizia, aqui na cidade, que antes tarde do que nunca; achava que o tombamento nacional chegou um pouco atrasado, esclarecia com todas as evidências, que os movimentos preservacionistas municipais, acima relatados, foram fundamentais ao processo de viabilização do tombamento federal. A cidade já tinha um histórico de preservação. Nesta data de comemoração do dia nacional da preservação, cabe-nos como testemunha dos fatos, mostrar que nossa luta pela preservação é um pouco anterior ao que se imagina. Vamos colocar as coisas em seu devido lugar, ou seja, foi o ano de 1954 o marco inicial da preservação de nossa história.
*Por Dagoberto Martins – Arquiteto

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